quarta-feira, 25 de março de 2015

BAÚ DE ESTÓRIAS QUE O POVO CONTA DE ARCOVERDE



"CASA SALVIO NAPOLEAO"  MÁRIO CABORE
"Seu" Sálvio (o Cap. Salvio Napoleão Arcoverde), neto de um dos irmãos do Cap. Budá, chegou a Rio Branco, procedente da velha Conceição da Pedra, a 2 de janeiro de 1912, onde se estabeleceu com uma casa de comércio.
Arcoverde (cujo município tem de superfície, pelos antigos limites do distrito, 417 quilômetros quadrados, ou 498 pelos fixados na Lei 2078, de 07 de agosto de 1930), no fim do século passado já era, talvez, uma cidadezinha de "mascate", "vocábulo de origem asiática que é o nome de uma cidade do golfo de Oman, naturalmente tomado para designar o mercador ambulante entre nós, alguns mouros daquela procedência, que apareceram na Colônia, vendendo as suas mercadorias pelas ruas e povoados". Já no alvorecer do século XVII comprova-se no país, segundo o autor dos "Diálogos e Grandezas do Brasil", a procedência de árabes de Mascate.
O qualificativo estendeu-se, concomitantemente, na Colônia, aos portugueses em geral, como designação depreciativa, vindo daí a de-nominação histórica de "Guerra dos Mascates", dada ao movimento emancipacionista de 1710, "em alusão à tenaz oposição que fizeram os portugueses àquela justa e legítima aspiração dos pernambucanos". "Mascate" passou, depois, a designar todos os comerciantes, tanto o português como o brasileiro, e tanto o ambulante como o estabelecido, que na maioria das vezes também mascateava, ou mandava mascatear.
"Seu" Silvio, filho de Antônio Napoleão de Siqueira e Teresa Bezerra Cavalcanti (Bezerra  Cavalcanti, de Pesqueira e de toda aquela região, é uma abreviatura de Bezerra Cavalcanti de Albuquerque, Orlando Cavalcanti, "Famílias do Nordeste", "Diário de Pernambuco" de 10.01.71, 3° Caderno), antes de ir para Rio Branco, em 1912, era dono de um pequeno sítio, na Pedra, onde dava duro.
Dona Almerinda, sua esposa, era agente do Correio, em uma casa na rua do Jatobá. A Agência mudou-se depois para a rua das Lombrigas.
Antônio Napoleão, o filho mais velho do casal, fazia o serviço da Agência, ou ajudava dona Almerinda e, com uma calça de brim "0zford-Caioelo" (da Fábrica Paulista), frequentava a Escola do prof. Brasiliano da Costa Lima, pai do "Marechal" Osvaldo Lima, do ex-deputado Luis de França, do Dr. José Donino e de outros filhos. O professor Brasiliano da Costa Lima (filho de Francisco da Costa Lima, um dos chefes políticos de Igaraçu, ou de outra cidade daquele mundo, no século passado), em cuja Escola, com uma palmatória reforçada em cima da mesa, estudaram, além de Napolcão, Maninho (Demócrito Japyassu), Dedé, Jorge e Joca Neiva (filhos do major Noiva, Inspetor do Telégrafo) e muitos outros alunos, ensinou, na Pedra, 21 anos, e sua esposa, dona Amália, 18 anos. Ali, tenho a impressão de que nasceram todos os filhos do casal, com exceção do "Marechal", largado pela Cegonha, em Igaraçu, a 25.5.1894.
Dona Amália, com um "Chernoviz", em casa, atendia também à matutada quando adoecia ou era mordida por cobra. Não havia médico em toda a redondeza, exceto em Pesqueira, onde clinicava o Dr. Diniz Passos, e mais tarde, em 1912, ainda também em Pesqueira, o Dr. Lídio Paraíba.
O Dr. Luis Coelho só viria clinicar, em Rio Branco, logo depois de formado, em 1920 ou 1921. Freire Filho, nascido no antigo Olho d'Água dos Bredos, parece que só veio, na realidade, ficar em Rio Branco e fazer clínica depois de 1937, quando ali apareceu representando uma nova marca de aguardente, a Cana Vita, alias, excelente, na opinião do meu amigo Altamiro Amaro, que a consumia em larga escala, no Bar e Sorveteria Confiança, de "seu" Noé. Antes disto, o Dr. Freire, que depois seria prefeito do Município, aparecia na "cidade", passava seis meses ou um ano, e ia embora. Era proprietário dos terrenos do atual Campo da Sementeira, que vendeu cie Estado há muitos anos.
No mesmo ano em que chegou a Rio Branco, em 1912, estabeleceu-se Sálvio com uma casa de tecidos. A loja foi, a mais antiga do município. Não creio que exista outra da mesma época, em todo aquele mundo. Subsistiu à grande crise de 1929 e vem subsistindo a tudo. Subsistiu, inclusive, ao saudoso Mário Caboré.
Quando, entre os anos de 1926 e de 1928 ou 29, Antônio Napoleão foi tentar a vida no Recife. Caboré ficou na frente do negócio. Caboré, que era o cão em pintura de gente, danou-se a namorar e a mandar buscar cortes de fazendas caras, no Recife, para presentear as namoradas. O velho Mário quase que atola o "time"...
Em minha época de estudante de Medicina e, mesmo por muitos anos, depois de formado, sempre que eu ia a Rio Branco, conversando até altas horas da noite em uma das esquinas de um beco da cidadezinha, Cabore gostava de assoviar "Luar do Sertão", velha modinha conhecida e admirada em todo o mundo, e interpretada, entre outros famosos cantores, por Tito Schipa, Alfonso Ortiz Tirado e Gabriela Benzansoni. Contam que Catulo a cantou, certa ocasião, para Ruy Barbosa e ele comoveu-se até as lágrimas.
"Oh, que saudades do luar da minha terra, lá na serra branquejando folhas secas pelo chão! Este luar cá da cidade, tão escuro, não tem aquela saudade do luar lá do sertão"...
Até o ano de 1924 o nome da "Casa Salvio Napolcão" era "O Amigo do Matuto". No frontão da loja, lá no alto, Antônio Napoleão pintou 3 ou 4 burros como se fossem no rumo de Vila Bela. Um almocreve os tangia com um buranhém.
Em outra época, os trilhos da Great Western foram o grande fator de progresso e civilização do sertão, onde viajar antes era, na realidade, uma aventura e os meios de condução eram o burro, o cavalo, o carro do boi, a rede e, às vezes, uma diligência.

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