domingo, 21 de agosto de 2011

Entrevista com o Arcoverdense Lirinha

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LIRINHA

Vocês afirmam que não são como árvores. Que não têm as raízes no mesmo sítio. Vocês caminham de um lado para o outro com as vossas raízes?

Todos nós. Ser da nossa região, implica carregar uma série de rótulos.

O Sertão, que sempre foi associado a música brejeira, da província.

E no sudeste existe uma visão oposto disto: futurista, cosmopolita. Isso não é real.

Vocês não se assumem como uma banda de ‘mangue beat’. Vêm do interior (Arcoverde) e o ‘mangue beat’ nasce no litoral (Recife). De qualquer forma, há nesta movimentação ‘mangue’ bandas com uma percussão muito forte como a NAÇÃO ZUMBI que parece terem aberto uma espécie de auto-estrada para vocês passarem e poderem chegar aos ouvintes do litoral. Estarei correcto?

Totalmente. Não temos nenhum problema em ser do ‘mangue beat’. Nós apenas comentamos que não fazemos parte daquele manifesto ‘mangue’ onde se fala em desentupir as veias do Recife. Tudo se refere à capital de Pernambuco. O problema é que existe um fenómeno mundial de as pessoas estarem de costas voltadas para o seu interior e utilizam expressões como “a efervescência da cultura pernambucana” [que se refere apenas ao Recife]. Isso é um grande engano. Isso acontece na metrópole e ninguém sabe o que está acontecendo no interior. Isso não é um fenómeno só em Pernamuco, é um fenómeno mundial. Você não sabe o que está acontecendo no interior de Portugal, da mesma forma que sabe o que se passa na metrópole (Lisboa). Acredito que em qualquer lugar existe gente fazendo música e poesia. São coisas inerentes ao ser humano. Nós somos de Arcoverde, uma cidadezinha de 70 mil habitantes. A nossa capital é o Recife. Hoje vivemos em São Paulo porque mandar uma mensagem do interior para a metrópole é o mais difícil.

Vocês seguem o percurso semelhante ao de muitos grupos do nordeste brasileiro que acabam por ir viver para São Paulo.

É inevitável. Vivemos nesse sistema capitalista e São Paulo puxa-nos pelo facto de ser habitada por 16 milhões de pessoas. É a quinta ou quarta maior cidade do mundo. Há muito mais espectáculos. Os jornais, as revistas, as televisões, estão todas lá. Torna-se uma espécie de ditadura inevitável. É a eterna retirada. Na minha região, no período forte de seca saia um ‘ônibus’ diário para São Paulo. São três dias de viagem levando os chamados retirantes que são as pessoas que saem de suas casas quando a seca é muito forte. Isso incha São Paulo e cria aquelas favelas enormes. Eu considero-me junto com os meus amigos um retirante também por uma outra água que secou, que é a possibilidade de viver da arte, de poesia, de música no nosso lugar. Somos literalmente obrigados a ir para essa cidade grande por questão de sobrevivência. Não meu caso não é necessidade de comer e de beber, é de sobrevivência artística.

Como é que os paulistas vêem os emboladores, os músicos de coco?

Hoje já se acredita que a arte não está congelada no passado. Já se entende que os emboladores têm a ver com o rap que é feito em São Paulo, que é ritmo, poesia e improviso. Acredito que esta geração mais nova já perdeu um pouco desses dogmas das artes fixas nos seus lugares e que não dialogam entre si. Isso não existe mais. Agora, preconceito, rótulo, ainda existe. Ainda nos dão o prémio da melhor banda regional [por sermos do nordeste]. A etiqueta ‘Música da Região’ não tem fundamento nenhum. Todo o mundo faz, inclusive CHICO BUARQUE e sambistas do Rio de Janeiro. Fazem música da sua região. Mas é um rótulo. Como LENINE agora é musica da ‘pop’. Ele fica super chateado.

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