quinta-feira, 25 de março de 2010

Sebastião Freitas Lima (Sebastião Caranguejo)









Palavras pra você, Sebastião Freitas Lima, que na data de 17 de junho de 1980, deixou o convívio com os mortais, entrando em contato com a eternidade. Palavras pra você que, ao partir, fez com que, quase toda uma cidade se levanta-se e saísse em cortejo fúnebre, como que querendo trazer você de volta, sem se conformar com sua partida rápida, como que querendo pelo menos como último desejo se, assim fosse possível, ver das suas mãos o último acena ou ouvir dos seus lábios o último adeus. Seria muito para nós que ficamos ver das sua mãos o último adeus? Dessas mãos que ao segurar um microfone fazia qualquer pessoa vibrar através do ritmo, por pior que fosse o seu humor. Seria muito ouvir pela a última vez o último adeus, gritado pelos seus lábios, desses lábios que tantas e tantas vezes nos salões e mesmo fora dele, transformaram pessoas e no afam do ritmo que só você sabia segurar, esquecia os problemas do dia a dia. Palavras pra você Sebastião, que as pessoas preferiam chamar de Caranguejo, porque só assim se sentiam mais perto de você, ficavam mais íntimo e podiam aprender alguma coisa com você. Palavras pra você, que era pequenino no tamanho, mais parecendo uma criança e talvez fosse por isso que você transmitia tanta felicidade as pessoas, porque só os adultos que permanecem com o resquício da infância, é que sabe transmitir a felicidade, como você sabia. Você que mesmo sem saber era um líder nato, porque os líderes aparecem geralmente quando morrem. È Caranguejo, os líderes são aquelas pessoas sem o a força conseguem angariar a simpatia dos seres humanos e as pessoas de inspiram nelas porque depositam confiança, Assim como os profetas fazem com seus seguidores. Você sabia que existem tanta pessoas que lhe admiravam? Você sabia que quase toda a cidade de Arcoverde iria chorar a sua morte, não sabia em Caranguejo? E mesmo que soube-se não iria mudar você em nada, claro que não, porque a sua simplicidade encobria qualquer sinal de mediocridade. Palavra pra você que, era a alegria do sertão, que sua luta desesperada do dia a dia, tentando fazer tudo correto, correto de mais, talvez tenha esquecido de viver. E quem sabe você tenha seguido a letra daquele verso que diz: “De tanto cantar as minhas canções ao vento, esqueci de viver”. Você que não conhecia o fracasso, mais que se preocupava para fazer tudo correto. Palavras pra você que, soube como ninguém fazer amigos e diz um provérbio que, quando as pessoas já cumpriram a sua missão na terra Deus o chama e será que você já havia cumprido mesmo a sua aqui conosco? Não, não posso responder a pergunta, mais que eu gostaria de ouvir você cantar novamente, há , isso eu gostaria, as pessoas sabem Caranguejo que, a transformação da matéria é necessárias, porém a algumas ainda teima em fazer inimigos. Pela brilhante lição que você trouxe para nós, pela a felicidade que você transmitia as pessoas evocando suas canções, pela maneira simples de viver através da música, pelo o amor que você deixou entre nós, porque você é filho do universo, irmão das estrelas e Arvores, e que lhe dedico as minha palavras pra você.


sábado, 20 de março de 2010

BAÚ DE ESTÓRIAS QUE O POVO CONTA








NOÉ NUNES FERRAZ (NOÉ DO BAR)

Noé Nunes Ferraz, o Noé do Bar e Sorveteria Confiança, localizada na Avenida Coronel Antônio Japiassú, na terra do Cardeal Arcoverde.

O seu Noé das calças frouxas e suspensório, meio gordo, olhos muito vivos, alegre, irreverente, da gravata borboleta sem laço, do cinturão largo e alpargatas de rabiço, inteligente e muito espirituoso, sempre com uma camisa de malha, calças escuras bem largas e u molho bem grande de chaves preso a um cinturão tala largas de couro. Ninguém em Arcoverde foi mais original e popular do que ele. O Noé, chamados pelos viajantes, da época, filósofos das legendas de paredes, por causa dos pensamentos que escrevia nas quatro paredes de seu estabelecimento comercial. Seus ditos, sua maneira de ser, e principalmente, o seu bar, que tinha nas paredes as recordações de todos que viveram à sua época.

Figura singularíssima popular, simpático, conversador e comunicativo, é muito difícil dissociar a figura de Noé do seu universo, ou seja, do seu bar. Ele não tinha outra diversão, atividade ou preocupação que não fosse o seu estabelecimento: O Bar e Sorveteria Confiança , visinho do seu concorrente Mário Caboré, proprietário do Ponto Certo.

Motivado pelos inúmeros causos acontecidos envolvendo sua pessoa, ainda hoje é figura muito lembrada na cidade, o qual trouxe grande parcela para o enriquecimento do folclore Arcoverdense. Mesmo sem ligar para política ou para qualquer tipo de movimento, ele à sua maneira foi um filósofo, um cara que sabia das coisa. Muitas da suas opiniões estavam escritas nas paredes do bar. Essas inscrições tomavam todas as paredes até quase a cumeeira e era uma das maiores características do bar e comentadas em todo o Estado de Pernambuco.


ALGUMAS DAS INSCRIÇÕES

“QUANDO EU COMPRAR UMA FIRMA COM TÍTULO DESCONTADO, EU SABENDO, PREFIRO MORRER ENFORCADO”.

“BOBAGE DISSE À RAINHA: BRICADEIRA É UMA SÓ VEZ. EU DIGO: BRICADEIRA DEMORADA É UM PERIGO DANADO”.

“SE BEBE PARA ESQUECER, PAGUE ANTES DE BEBER”.

“AS TRÊS COISAS MAIS FÁCEIS QUE EU ACHEI: PROMETÊ E NÃO CUMPRIR, DÁ JEITO NOS NEGÓCIOS DOS OUTROS E MANDAR LEMBRANÇA”.

“AQUI NÃO GUARDO AVES E MUITO MENOS GALINHAS OU DA FAMÍLIA”.

“ HÁ ENTRE O HOMEM E O TEMPO CONSEQUÊNCIAS BEM FATAIS. O TEMPO FAZ E NÃO DIZ, O HOMEM DIZ E NÃO FAZ. O HOMEM NEM TRÁS NEM LEVA E O TEMPO LEVA E TRÁS”.

“MORRE A MULHER FICA A SAIA, SECA A MARÉ, FICA A PRAIA, BOI MORTO NÃO SE LEVANTA, QUEM NÃO NASCEU PRA CANTÁ, MORRE DANADO E NÃO CANTA”.

“ A MEDIDA DE PREVENI NÃO TEM COMPARAÇÃO COM A DE REMEDIAR. É MELHOR COM PENA SENTIR DO QUE SEM REMÉDIO CHORAR. VÊ LÁ! COMO ENVELHECER ACHANDO BOM, NOÉ SABE”.

“NO MUNDO VENCE OS QUE TEM CALMA E FRACASSAM OS VIOLENTOS OU QUE DESESPERAM ANTES DO TEMPO. FOI ASSIM QUE HITLER PERDEU E CHURCHIL GANHOU MAIS FOI A GUERRA”.

“O PAI QUE NÃO FAIS SEUS FILHOS CHORÁ EM PEQUENO, CHORA POR ELES. SEPOIS QUE FAZ TODOS OS GOSTOS A ELES, TEM DESGOSTO POR ELES, E QUEM NÃO FAZ ELES TRABALHAR. TEM TRABALHO POR ELES E MAIS! E MAIS!”

“A PRIMEIRA DE 1964: SE O AMOR DA MULHER NÃO VENCE O HOMEM JÁ NÃO TEM OUTRO PUDER”.

“VIVER TODO O MUNDO SABE, MAS SÓ DEUS SABE COMO VIVER SOFRENDO. NÃO É VIVER QUE EU QUERO VER. E VIVER GOZANDO, E BRINCANDO, E A CANTANDO. ISSO É QUE ME TEM DADO TRABALHO APRENDER”.

“COM GEITO SE ARRANJA TUDO, COM JEITO TUDO DE FAZ, COM JEITO SE LEVA O MUNDO, COM GEITO TUDO É CAPAZ, QUEM NÃO SABE FAZER ISTO, TEM QUE SOFRER DEMAIS”.

“QUEM NASCEU E VIVEU SEM OS CARINHOS DE UMA MULHER QUERIDA, PODE DIZER QUE NASCEU E VIVEU NAS TREVAS, SEM CONHECER O MAIOR PRAZER DA VIDA”.


FRASES QUE NOÉ COLOCAVA NO SERVIÇO DE PROPAGANDA DE ALTO-FALANTES BANDEIRANTE

“DEUS PROTEGE O INOCENTE QUE SE ESCONDE DO MALVADO E ATRAPALHA OS PROJETOS DO MAL INTENCIONADO”.

“BAR E SORVETERIA CONFIANÇA DE NOÉ NUNES FERRAZ”.

“”QUEM É NOÉ? – NÃO É O DA SOVERTERIA?”.

“NOÉ E COMO OS DOZE PARES DE FRANÇA, TEM SIDO EMITADO, MAS NUNCA IGUALADO”.

“QUEM DOMINOU COM PADADRIA 19 ANOS EM CUSTÓDIA?”.

“QUEM DOMINOU COM SECOS E MOLHADOS 27 ANOS EM SERRA TALHADA?”

“QUEM ESTÁ DOMINANDO HÁ 33 ANOS COM BAR, SORVETERIA E RESTAURANTE EM RIO BRANCO?”.

“NOÉ. NO BAR E SORVETERIA CONFIANÇA, VOCÊ ENCONTRARÁ OS MELHORES PETISCOS E TANTO COMPRA GÁS, CHARUTOS, CIGARROS, OVOS, CARAMLOS, CAVIAR, COCO, SABÃO, LÍNGUA DE ROUXINOL, MANGA DE CANDEEIRO, AZEITONA, MELHORAL, ALPAGATAS, GALINHA, AÇUCAR, LINGÜIÇA, COCADA, MEL DE ABELHA, BARBANTE E CABO DE VASSOURA, COMO ENTRE OUTROS GÊNEROS, ELIXIR SANATIVO. ESTAREMOS VENDENDO TAMBÉM LOGO MAIS, PAU DE CANGALHO”.

“É NOÉ SEMPRE O MESMO DE PAZ E DO AMOR! É NOÉ NUNES FERAZ”.

Mas foram os episódios divertidos que mais marcaram a sua vida e ficaram no nosso folclore e anedotário.

EPISÓDIOS E CAUSOS DO SEU NOÉ

“Certa vez uma dona muito chata entrou no bar e perguntou: “Tem ovos?” Ele respondeu sério: “Tem não senhora”. E a dona: “Deveria ter”. Noé em cima da bucha: “ De veria tem, a senhora quer?”

“Um cara comprou um picolé e encontrou dentro algo parecido com um pedaço de gravata borboleta que Noé usava. Foi reclamar. Cheio de direitos disse: “Olhe o que eu encontrei dentro de um picolé que comprei aqui, um pedaço de gravata”. Noé ouviu com atenção e mordaz respondeu: “E pelo preço que pagou você queria encontrar uma gravata inteira?”

“Esta, no meu entender, foi a que mais marcou o espírito crítico de Noé, a pessoa realista que Lee era. Logo depois do golpe de 1964, no auge do “pega-pra-capar”, estavam dois sujeitos discutindo no bar, um a favor da “redentora” e outro contra. Noé só ouvindo. Como não chegaram a um acordo, eles pediram a opinião de Noé. Ele foi taxativo: “ Se a comida é essa, para que engulhar?”

“A campanha política de Napoleão X Cursino, foi uma guerra. Dividiu a cidade. Noé, como era do seu feitio, não tomou partido. Mas não pode se furtar a um comentário seco, sério e definitivo sobre os dois candidatos: “ Um não fala com ninguém (Cursino) e o outro a gente não pode falar com ele (Napoleão)”.

“uma noite, algum tempo antes do dia que morreu, Milton (filho de seu Vicente Gomes, esta último dono de um armazém de compra de feijão, milho e mamona em Rio Branco, vizinho à “Sertaneja” de seu Manoel Novais), passou pelo Bar e Sorveteria Confiança e estava Noé cochilando, sentado numa cadeira na calçada. “Ai não é”, disse Milton, e continuou em seu caminho para o cinema. “È meu velho amigo”, respondeu Noé no mesmo instante, abrindo os olhos e continuando a cochilar na maior paz do mundo. Pode me chamar de “não é” que eu hoje estou velho e velho não é mesmo de nada”.

“Noé era maluco por buchada. Sobre essa sua preferência conta Luiz Cristóvão no prefácio do clássico “Minha Cidade, minha saudade” de Luiz Wilson, obra importante e definitiva da história arcoverdense: Um dia um rapaz foi ao Bar de seu Noé ( Noé era, àquele tempo, delegado de polícia de Rio Branco) queixar-se de que haviam roubado um carneiro do quintal de sua casa na Rua do Quipá. Como era esse carneiro; meu filho? O maturo estão com a esperança lampejando no olhos, pintou o animal com riqueza de detalhes: Ah! “seu” Noé, era um baita carneiro, capado e gordo, com as mãos pretas e uma mancha na testa. Dava gosto ver o bicho!

O velho se levantou da cadeira em que estava sentado, sungou as calças e foi a calçada do bar, para onde chamou o rapaz dizendo-lhe “na maior inocência do mundo”, a um canto de uma janela da casa de Antônio: “Meu filho, com esse carneiro eu não posso bulir, porque já fui chamado para comer a “buchada” dele amanhã. Volte para casa tranqüilo e não fale coisa alguma a ninguém. Se roubarem outro carneiro o senhor venha me dizer e aí você não pode imaginar o que eu vou fazer com o ladrão”.

“Noé já meio idoso, romântico e solitário, mas ainda se sentindo com bastante vigor, quis afogar a solidão com uma mulher bem mais jovem do que ele, com quem viveu maritalmente vários anos, mantendo-a numa rua bem afastada de seu estabelecimento comercial. Repetidas vezes, ao sair ou ao chegar na casa de sua jovem amante, notava nas proximidades da residência, a presença de um rapaz jovem, tipo almofadinha e olhava-o com desconfiança. Posteriormente certificou-se tratar-se de um ursinho, mimado carinhosamente pela sexualidade erótica e extasiante de sua jovem amante o que lhe deixou devera contrariado. Entretanto, Noé não era o tipo de homem que briga por mulher nenhuma. Muito pelo contrario, era um verdadeiro filósofo, resolveria tudo nos ditames das filosofia. Certo dia inesperadamente, encontrou-se com o dito cujo, e cumprimentou-o amavelmente, deixando o ursinho surpreso. Noé deu as cartas e jogou de mão. “Bom dia, meu jovem urso”. E prosseguiu: “ Trabalhe muito, ganhe bastante dinheiro para quando estiver da minha idade poder sustentar mulher para os ursos da via, como eu faço agora”. Rindo deixou o urso pasmado e foi embora”.

Hoje ele é nome de rua. È pouco, mas já é alguma coisa. A homenagem maior teria sido impedir a demolição do seu bar. Mas a nossa indiferença ante a voracidade do progresso é mais forte.

São muitas as estórias que contam de Noé, em Rio Branco, hoje como Arcoverde.

Finalmente, como dizia Guimarães Rosa: “ Há pessoas que não morrem, se encantam”, Noé foi uma delas.


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